quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Ela deitou-se, ainda com os pés cheios de areia, quem sabe para sentir por instantes a sensação de liberdade, que quase raramente era-lhe imposta. Mas outra sensação a incomodava, na boca, descendo e subindo dentro do corpo mau tratado, por momentos ficou indagando se o que sentira era reciproco e até mesmo real. Era aquilo que não parava de latejar no seu líquido interior, ela nunca quis tanto algo que ainda não sabia o que era. O maldito destino tratou de esconder o seu mapa, se é que havia um. E antes de tudo, aquele gosto na boca não saia, de vômito oco.

domingo, 7 de novembro de 2010

O poço secou, de tanto pingar ao contrário todas as noites, as quentes e as frias. Nenhum dos sinais sobre o poço foram entendidos, ele estava secando... É tarde demais agora, pois na segunda tentativa havia como preencher , mas não haverá terceira, porque não há matéria. E como dói a dor que só o coração do poço sente, como dói a dor do que o preenchia. Como dói, e ainda vai doer essa matéria aquosa que poucos conhecem e que queria trancar só para mim.

sábado, 6 de novembro de 2010

- tão bem de estar ali no meio, fazer parte dessa correria, dessa cidade..
- as vezes parece que mais ninguém existe, que é só você e aquilo
- exato, e tem coisas que não dá pra explicar, você apenas.. sente.
-é, daí você fica com um sorriso no canto da boca, que não precisa acontecer, porque na verdade o sorriso tá explodindo por dentro
- tu é boa de palavras, depois diz que não sabe se expressar.
-é que as vezes tem coisa que nem palavra explica...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Natureza.

Sempre gostei desse tipo de contato, lembro, daquelas condições, e foi similar a de quando nascemos, nus, inteiros, puros.
Aquela água em temperatura que não pode ser medida causou isso, e céu e o tintilar das gotas, o sopro do vento e das árvores causaram a sensação de: sou viva, aos poucos.
O barulho da água caindo sobre minha cabeça, os pássaros, as árvores, o vento, o céu sem nuvens, eles não escapam da mente, vivo devagar, mas vivo, aos poucos.

domingo, 10 de outubro de 2010

- Sabe do que tenho vontade?
- Do que?
- Comer nuvem.
- Nuvem não tem gosto, é como vapor que sai da panela.
- Mas tudo tem gosto nessa vida.
- Mas nuvem é ar, não tem gosto de nada, assim como água.
- Claro que nuvem e água tem gosto, tudo tem gosto, a gente é que não sabe, até o ar que respiramos tem gosto, a gente é que não sente.
- Então nuvem tem gosto.
- É, sonhei que comia nuvem, quero comer nuvem.
- Eu te amo.
- Eu também

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Estão cegos, todos eles, é consequência da poeira que se localiza sob nós. Ela não mata a sede, a fome, não fornece conhecimento e muito menos cura qualquer tipo de dor. Fica fazendo movimentos giratórios, entorpecendo, o olhar esconde-se, como se tivesse medo dela, do que trouxe e daquele pouco tudo que levou. A cegueira não permite que os problemas sejam solucionados, as coisas estão do mesmo jeito ou até piores...Os cegos caminham rotineiramente pelos mesmos lugares e, obviamente, não detectam as soluções dos problemas, parece ser mais simples pisar com força, daí quem sabe eles afundam. Pois, como? Como passar várias vezes e não perceber?
Fico me perguntando, como e até quando?

sábado, 21 de agosto de 2010

Tão longe, tão perto também

Se você não está aqui e nunca esteve, tão próxima...
Seria bom abrir a porta, caminhar um pouco e bater na sua, pra variar.
Te contaria meus segredos e angústias
Se você pudesse, iria me escutar
Então conversaríamos, como velhas amigas
Se eu soubesse onde você está, iria correndo te buscar
Te contaria sobre meu amor, e como estou com ele
Perguntaria sobre os seus, e cuidaria de você...
Se você não está aqui e nunca esteve, tão próxima.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Ouça, está tocando The Beatles como de costume e o Paul está dizendo que estamos fazendo nosso caminho para casa.
Mas, querido, você é tão especial, eu sou tão esquisita.
Minha aparência é de 15, enquanto deveria ter uns 50, frágil, ficar em casa, tanto faz, não pertenço a esse lugar. Cansei de falar ou até mesmo explicar, não adianta, eles não entendem.
Então querido, me entenda, você é o único que pode me tocar, ou me ouvir quando não digo nada, estou tentando não dizer.
Ouça, o Paul está falando das nossas memórias, elas são maiores que a estrada.
Penso que eles me odeiam, ou qualquer semelhança possível. Tentando não me preocupar, não carregar o mundo nos ombros, é tão difícil, te seguir, talvez porque você passa mais tempo com eles, ou talvez porque eu não os tenha, da mesma forma que você.
Me refiro fisicamente a esse tempo, estamos sempre juntos de alguma forma.
Volte para casa, para nossa casa,venha enxugar minhas lágrimas,quero ir com você. Venha, frágil, deite-me e me coloque para dormir.
Ouça querido, o Paul está dizendo que estamos fazendo nosso caminho para casa, e para acreditarmos nisso...

domingo, 21 de março de 2010

Enquanto eu dedilhava o seu violão você voltou e fiquei parada te olhando e sorrindo, as vozes na sala foram ficando distantes, e meus olhos não necessitavam que eu piscasse durante todos segundos, precisavam mergulhar nos seus, depois o vento tratou de secar meus cabelos, eu provoco as melhores e mais estranhas sensações dentro de você, mas guarde este segredo, eu também sinto o mesmo, ninguém além de nós sabe do que se trata realmente. Ninguém sentirá isso da mesma forma que somos capazes de sentir, e mesmo que pareça bom demais pra ser verdade, a felicidade está afinada como seu violão, eu pude perceber, se isso não for, eu não sei mais o que é o amor.